Não há como negar, a poesia está intimamente ligada ao Recife. Seja pela sua arquitetura repleta de sobrados e casarões históricos dos bairros do centro da cidade; seja por personalidades que moraram aqui como Clarice Lispector, Gilberto Freire ou o mestre Capiba. Recife é uma verdadeira fonte de poetas e não por acaso, a cidade reservou um roteiro turístico justamente ligado à esta área cultural. São esculturas em tamanho semelhante aos seus personagens originais, localizadas em pontos representativos da cidade.
Neste roteiro cultural, propomos um passeio por cenários apaixonantes do Recife para conhecer mais sobre os grantes mestres que habitaram a cidade.
Neste roteiro cultural, propomos um passeio por cenários apaixonantes do Recife para conhecer mais sobre os grantes mestres que habitaram a cidade.
Visualizar Circuito da Poesia em um mapa maior
Manuel Bandeira (1886 / 1968)
A estátua do precursor do Movimento Modernista está localizada na Rua Aurora, "a mais recifense de todas as ruas", segundo Gilberto Freyre. E não é para menos, é só dar uma olhada ao redor para encontrar antigos sobrados e casarões do século 19. Um pouco mais adiante está o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães e os prédios tradicionais da Assembleia Legislativa e do Ginásio Pernambucano. Manuel Bandeira também foi jornalista, cronista, ensaísta, tradutor, professor de literatura e membro da Academia Brasileira de Letras. Suas obras abordam essencialmente temas cotidianos, utilizando inclusive, uma abordagem diferente com uma certa dose de humor e ironia, a exemplo de "Os Sapos", escolhido para abrir a Semana de Arte Moderna de 1922.
João Cabral de Melo Neto (1920 / 1999)
Seguindo mais à frente também na Rua Aurora, um dos maiores poetas brasileiros e autor da obra célebre "Morte e Vida Severina". Também foi diplomata brasileiro, mas foi sua obra poética o seu maior legado, que segue uma tendência até surrealista em alguns poemas. Irmão do historiador Evaldo Cabral de Melo, primo do poeta Manuel Bandeira e do sociólogo Gilberto Freyre, João Cabral foi eleito membro da academia em 15 de agosto de 1968, e empossado em maio de 1969. Ele ocupou a cadeira de nº 37, que antes pertencia ao jornalista Assis Chateubriand.
Capiba (1904 / 1997)
Lourenço da Fonseca Barbosa nasceu em Surubim, Agreste do estado, mas é na canção "Recife Cidade Lendária" que o amor pela capital pernambucana fica evidente: "Recife de velhos sobrados, compridos, escuros / Faz gosto se ver / Recife teus lindos jardins/ Recebem a brisa que vem do alto mar". Autor de mais de 200 canções, a maioria frevo, Capiba é, inevitavelmente, sempre lembrado nos carnavais de Pernambuco. Compôs músicas que se tornaram quase "hinos" do carnaval pernambucano, como "Madeira que cupim não rói", "Oh Bela!" e "Voltei Recife". Atualmente, a reprodução de Capiba pode ser encontrada contemplando a paisagem lendária do Rio Capibaribe, na Rua do Sol, ponto final do grandioso desfile do Galo da Madrugada.
Mauro Mota (1911 / 1984)
O jornalista, poeta e ensaísta, não poderia estar em outro lugar a não ser a Praça do Sebo, tradicional local de venda de livros raros e usados. Criada em agosto de 1981, a praça reunia poetas e escritores, além de servir de palco para recitais realizados na cidade. Hoje - instalado no local chamado Rua da Roda, bairro de Santo Antônio, por trás da Avenida Guararapes - reúne cerca de 20 boxes de comerciantes. No início, a praça Autor de obras famosas como "Elegias", "Imagens do Nordeste" e "Canto ao Meio", Mauro Mota foi membro da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira 26. Em sua carreira jornalística, foi secretário, redator-chefe e diretor do Diario de Pernambuco; colaborador literário do Correio da Manhã, do Diário de Notícias e do Jornal de Letras do Rio de Janeiro.
Carlos Pena Filho (1928 / 1960)
"Pintor de palavras", foi este o título que Carlos Pena Filho recebeu de Gilberto Freyre, tamanha a delicadeza de sua obra. A escultura do poeta - que também foi jornalista e advogado, morrendo aos 32 anos - está localizada na Praça da Independência, tradicional espaço comercial do Recife desde o tempo dos holandeses em Pernambuco. Localizada no bairro de Santo Antônio, a praça abrigava casas que vendiam gêneros de primeira necessidade, por isso, no século 17, recebeu o nome de praça do Comércio. O nome atual só viria em 1833, depois que as antigas casinhas foram demolidas e substituídas por lojas maiores. A praça também é conhecida como Pracinha do Diario, por estar localizada em frente à antiga sede do Diario de Pernambuco, do qual Pena Filho também foi colaborador.
Antônio Maria (1921 / 1964)
"Se você me contrar dormindo, deixe; morto, acorde". É do poeta, compositor e cronista Antônio Maria, a famosa frase. Sua escultura está localizada na Rua do Bom Jesus, que na época da invasão portuguesa (1630 / 1654) era chamada de Rua dos Judeus, local onde estavam situados estabelecimentos comerciais judaicos e a Sinagoga Kahal Zur Israel, primeira das Américas e hoje Centro Cultural Judaico do estado. Antônio Maria foi, aos 17 anos, apresentador de programas musicais na Rádio Clube de Pernambuco e tempos depois, da Rádio Clube do Ceará. Compôs músicas em parceria com nomes famosos como Dolores Duran, Elizeth Cardoso e Nora Ney, esta última foi lançada com o sucesso "Menino grande" e "Ninguém me ama".
Chico Science (1966 / 1997)
A imagem do compositor e criador do manguebeat não poderia estar em outro local. A Rua da Moeda, no Bairro do Recife é o ponto original dos eventos do movimento mangue e faz parte do Polo Anfândega, junto com as Ruas Madre de Deus, da Alfândega, Aluísio Periquito, Aluísio Magalhães e trechos da Vigário Tenório e Alfredo Lisboa. O movimento, que mistura ritmos regionais com rock, hip hop, samba-reggae, funk e rap nasceu no Recife da década de 90 e foi responsável por colocar Pernambuco nos holofotes da cultura em todo o mundo.
Ascenso Ferreira (1865 / 1965)
Perto da Rua da Moeda, também no Cais da Alfândega, contemplando a paisagem marcante do Rio Capibaribe está o poeta Ascenso Ferreira, que pertenceu à primeira geração do Modernismo. Autor de obras como "Catimbó", "Cana Caiana" e "Xenhenhém", a escultura do poeta está na área localizada em frente ao Paço Alfândega, um centro de compra, cultura, lazer e gastronomia, que funciona em um prédio histórico de 1732. Nascido no município de Palmares, só veio para o Recife em 1920 e fez do chapéu de palha, que usava constantemente, sua "marca registrada".
Joaquim Cardozo (1897 / 1978)
É na Ponte Maurício de Nassau, local onde existiu a primeira ponte da América Latina, onde está a escultura do poeta Joaquim Cardozo. Ele fez parte da segunda geração do Modernismo e como era engenheiro civil, chegou a trabalhar com Oscar Niemeyer em importantes construções de Brasília. Conviveu com outros poetas modernistas como Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, enfocando em sua obra temas recorrentes sobre o Recife e a Região Nordeste, por isso é considerado um dos maiores poetas do século 20.
Solano Trindade (1908 / 1974)
Foi o maior poeta negro do Brasil, segundo Carlos Drummond de Andrade. Também foi poeta, pintor, folclorista, cineasta e teatrólogo, tendo fundado o Teatro Experimental do Negro e o Teatro Popular do Brasil. Sua escultura está no Pátio de São Pedro, um dos mais importantes polos de animação do Recife. Na mesma área existem edificações do século 18,como a Concatedral de São Pedro dos Clérigos (1728 / 1782), além de diversos espaços culturais.
Luiz Gonzaga (1912 / 1989)
As alegrias e tristezas do povo nordestino foram brilhantemente retratadas pelo cantor Luiz Gonzaga. A escultura do "Rei do Baião" está instalada na Praça Visconde de Mauá, saudando quem passa pela antiga Estação Central do Recife (1888) ou pela Casa de Cultura de Pernambuco, centro de comercialização artesanal instalado no memo prédio onde funcionou a antiga Casa de Detenção do Recife.
Clarice Lispector (1920 / 1977)
É na Praça Maciel Pinheiro, em frente à casa onde a escritora morou, que está localizada a escultura da ucraniana Clarice Lispector. Ela passou parte da infãncia no Recife, onde ensaiou suas primeiras incursões na vida literária. O local onde sua imagem está retratada é uma das paisagens mais tradicionais do Recife, como o comércio popular da Rua da Imperatriz, a Matriz da Boa Vista da Irmandade do Santíssimo Sacramento, o Teatro do Parque e o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.